Praxes: A ignorância de um ministro em vómito cerebral

“As praxes são um fenómeno de inspiração fascista típico dos guetos sociais.” By: Mariano Gago (Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), in: Revista Única, Expresso.

Que o vómito cerebral deste governo é uma intrínseca deficiência, a grande maioria dos portugueses já não tem dúvidas mas, até essa indisposição tem que ter limites.

Como estudante do ensino superior, como jovem, como cidadão nacional, nada me causa mais repúdio que afirmações deste género. Sem nada que possa significar uma melhoria da vida para os portugueses, eis que o governo começa a atacar, desmedidamente, tudo o que mexe.

A posição anti-praxe do ministro é sobejamente conhecida mas o insultuoso comentário ultrapassa todos os limites. A praxe não é uma manifestação fascista nem, quem a exerce deve ser visto como um qualquer criminoso de um gueto social.

A praxe é uma tradição académica, que é cumprida anualmente aquando da chegada dos novos estudantes à universidade. É um acto de integração numa nova realidade, muitas vezes longe da sua realidade, da família e dos amigos de sempre.

A visão das praxes como algo de violento e humilhante é passado e, se alguém compara este fenómeno ao fascismo, não é mais que um ignorante relativamente à história de Portugal. É uma visão esquerdista, com apontamentos de um certo extremismo recalcado, típico de quem se sente, de alguma forma, frustrado por uma memória negativa vivida.

Das várias vezes que, em conversa familiar, o meu pai recorda os seus tempos de vida académica em Coimbra, dois factos nunca são esquecidos. Um deles é a praxe, 25 mergulhos na fossa das vacarias, mais três baldes despejados cabeça abaixo… valeu-lhe um mês de afastamento da minha mãe, já namorada na época, por emanar um aroma… a estrume. Este momento é sempre revivido entre algumas gargalhadas à mistura e algumas piadas malcheirosas…

Um segundo facto, sempre presente, é, este sim, revisitado num tom mais sério e, de certa forma, angustiado mas que, segundo o próprio, hoje em dia só aumenta o valor da sua formação, bem como dos colegas que, à época, se viram na mesma situação.

Vindos de Angola, os estudantes universitários que, em Portugal, quiseram continuar os seus estudos, foram apontados, enxovalhados e discriminados por muitos que hoje advogam liberdades à boca cheiro ou usam comparações muito pouco inteligentes.

Chegados de um ambiente hostil, em que muitos dos nossos líderes actuais, principalmente do socialismo e comunismo, tiveram acrescidas responsabilidades, estes estudantes foram rapidamente rotulados de “retornados”, “portugueses de segunda” e muitas outras expressões muito pouco abonatórias. Nas residências eram colocados em blocos separados dos restantes e o tratamento era sempre desigual.

Estes são factos de uma realidade, não muito distante, em que se deu início a uma nova era na história de Portugal, a era da liberdade. Uma liberdade por muitos usada da maneira mais perversa e que hoje, falhados os seus planos de assumir o controlo da nação e transformar Portugal numa Coreia do Norte europeia, reclamam igualdades e direitos que, pela sua ideologia, lhes são contrários.

A capa e a batina negras dos estudantes são símbolos de um patamar de vida que todos podem atingir e, ao atingi-lo, sentem orgulho e gostam de o exibir sob a forma das suas vestes e tradições.

Se, em nome da tradição, se permitem matar animais em público, então, deixem de encontrar nos estudantes bodes expiatórios para os seus erros e frustrações. É altura de olharem para o ensino superior com olhos de ver e para os estudantes como o futuro desta nação, caso contrário, mergulhamos Portugal num poço de ignorância, afogado em novas oportunidades, dívidas e vendido ao desbarato.

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